ADIM
Associação de Defesa
dos Interesses de
Monsaraz

A ADIM é uma associação que promove a defesa do património de Monsaraz e do concelho em que está inserido, fundada há 25 anos. Pautamos a nossa intervenção pela afirmação de uma cidadania activa valor supremo para a qualidade de qualquer democracia avançada, na prossecução dos nossos objectivos, por isso intervimos sempre que julgamos útil e oportuno.
Estamos preocupados, desde sempre e ao longo destes anos de existência, com o futuro da nossa terra. A mais valia da nossa região é a qualidade do ambiente, da paisagem e do património. Monsaraz, vila classificada na sua totalidade como Monumento Nacional, continua a não ter um plano de salvaguarda, um plano que determine e clarifique o tipo de intervenções, sejam públicas ou privadas, de modo a preservar a sua identidade e genuinidade, de forma clara, balizada e devidamente fundamentada na teoria do restauro e da conservação, como acontece em toda a Europa avançada e moderna.
O plano de que carece esta Vila monumental deveria ainda ser abrangente o possível para regular as questões que se prendem com a especulação que tem afastado os residentes da vila, e oferecido os seus espaços habitacionais a casas de fim de semana e/ou a usos diferentes dos da habitação, em número excessivo e desproporcionado. Este desequilíbrio só foi possível por ausência deste documento de planeamento fundamental, que também teria sido importante para estabelecer regras urbanísticas e arquitectónicas bem como estabelecer critérios de desenvolvimento turístico e de promoção. Com um documento com este alcance, suportado por estudos de análise pluridisciplinar a montante, que a ADIM tem reivindicado desde há muito, teriam sido evitados erros diversos, nomeadamente os que se prendem com a recuperação das muralhas dos sistemas defensivos e a construção de um sistema de acessos casuístico e não planeado, que torna o acesso principal a Monsaraz num conjunto inestético, poluído visualmente, e com um enquadramento paisagístico completamente desadequado do nível de qualidade que o monumento exige. Ter-se-iam também evitado as relativamente recentes destruições de solo arqueológico que, aliás, motivaram a intervenção da ADIM, que interpôs uma providência cautelar contra estas obras ilegais, parte delas em área non aedificandi da Zona Especial de Protecção.
Até este momento, o fenómeno turístico não tem beneficiado plenamente a população, que tem vindo a ser empurrada para fora das muralhas. Patrimonialmente, a pressão imobiliária tem provocado problemas, como é o caso da corrida à construção na soberba encosta onde se alcantarilha o complexo militar. De facto, recentemente, também têm sido polémicas algumas obras que, mascaradas de recuperações, e desrespeitando regras elementares e a própria Lei, usando solo protegido e abrindo feridas na paisagem, podem ser o início do invadir das encostas da vila à construção descontrolada.
Um dos poucos projectos sustentáveis e importantes para o verdadeiro desenvolvimento desta terra, o tão falado e já esquecido Museu Regional de Arqueologia, um projecto verdadeiramente original e criador de mais valias efectivas para a região, não está ainda construído. Antes, está completamente parado, 15 anos depois de ter sido prometido. De facto, a quantidade infinita de estudos, investigações, levantamentos e escavações arqueológicas efectuadas, produziram uma riqueza científica ímpar e notável que importa proteger e divulgar. Não se conhece outra experiência semelhante, a nível planetário, que tenha passado pela análise sistemática e pluridisciplinar de milhares de km2. O manancial de estudos que esta situação ímpar proporcionou, cujos resultados começaram agora a ser publicados pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo, não foi ainda rentabilizado em termos científicos ou turísticos. Com esse conhecimento singular, poderiam fazer-se vários museus virados para o futuro. Peças exemplares, únicas, que projectassem e divulgassem a região no mundo e que trouxessem os tão esperados visitantes.
Somos uma pequena associação que faz questão de fazer ouvir a sua voz e de alertar para todas as ameaças, concretizadas ou não, de destruição concertada do nosso património e da nossa paisagem, da nossa cultura e das nossas tradições, que prefere a promoção de pequenos projectos de base local, enraizados na realidade e com base nos recursos existentes a projectos megalómanos sem qualquer sustentação nessa mesma realidade que, em vez de promoverem os valores existentes, os modificam e descaracterizam drasticamente. A História normalmente julga e mostra de que lado está a razão. Mas é sempre tarde de mais na maior parte dos casos.
Infelizmente, no nosso país, são minorias que defendem a Cultura, o Património e a Paisagem. Nós fazemos parte delas, mas não nos movem interesses económicos, pessoais nem de grandes grupos de poder. Somos, como já afirmamos, pequenos e sem poder, mas gostaríamos de poder continuar a ser daqui, deste sítio, desta terra à qual estamos ligados. Gostaríamos de poder participar no seu desenvolvimento harmonioso, para todos, e não apenas para os novos senhores da terra loteada e urbanizada à custa da destruição da nossa paisagem, da nossa Reserva Agrícola e da nossa Reserva Ecológica.
Como uma vez disse o Embaixador José Cutileiro que tão bem compreendeu e estudou esta terra, “SER CULTO É SER DE UM SÍTIO” no sentido de que é a identidade da nossa terra e das nossas raízes que nos dão a força e a cultura para prosseguir de cabeça erguida e construir um futuro com Memória.
De entre as nossas pequenas lutas, destacamos a defesa do património e da paisagem. Somos claramente contra a transformação da nossa MEMÓRIA num grande resort de PIN’S, de golfes e de grandes unidades hoteleiras, Somos contra, porque achamos desadequado, o turismo igual a todos os outros turismos que há por esse mundo fora, em perfeito contra ciclo com o que de melhor e mais avançado se faz neste domínio do desenvolvimento local e do turismo de qualidade. Basta olhar para os bons exemplos, entre os quais se contam os pequenos avanços, para os quais temos contribuído, no âmbito da nossa intervenção nos programas de desenvolvimento rural LEADER e PRODER, através dos quais foram criados pequenos e exemplares casos de turismo rural, de qualidade.
Defesa do Património
Texto de Jorge Cruz, Arquitecto
Património Natural
Património Arquitectónico e Arqueológico







