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Texto de António Carlos Valera
(coordenador do programa de investigação dos Perdigões)





Localização e estatuto


   O complexo arqueológico dos Perdigões localiza-se cerca de um quilómetro a norte de Reguengos de Monsaraz, junto à estrada que vai da sede de concelho para a povoação da Caridade. Está implantado num relevo que forma um anfiteatro natural, aberto a este, para o vale da Ribeira do Álamo, tendo Monsaraz como horizonte.
   Cerca de dois terços do sítio arqueológico encontram-se integrados na Herdade dos Perdigões, em propriedade do Esporão S.A. O restante terço abrange terrenos de diferentes proprietários.
   Dada a sua importância científica e patrimonial, os Perdigões têm já uma área classificada (área do cromeleque), estando a restante em processo de classificação. A parte pertencente ao Esporão S.A. está constituída como reserva arqueológica, encontrando-se em processo de investigação. A restante parte mantêm a exploração agrícola que tinha na altura da identificação do grande complexo de recintos que caracteriza o sítio.




Descoberta


   Os Perdigões eram conhecidos desde os anos oitenta do século passado, quando se identificou o seu cromeleque e nele se realizaram algumas sondagens arqueológicas. Na altura, porém, desconhecia-se a real natureza e dimensão do sítio arqueológico.
   Seria, contudo, apenas em 1996 que os Perdigões emergiriam em toda a sua espectacularidade, quando da aquisição da Herdade dos Perdigões pela então FINAGRA S.A. (hoje Esporão S.A.) e após surriba para reconversão do olival em vinha,.
   Em 1997 seriam realizados trabalhos de diagnóstico pela ERA Arqueologia S.A.. Confirmada a importância científica e patrimonial do sítio, o seu processo de investigação iniciar-se-ia no ano seguinte, mantendo-se em curso até ao presente.







Caracterização


   Os Perdigões correspondem a um grande complexo de recintos genericamente circulares e concêntricos, definidos por grandes fossos escavados no subsolo. No interior alberga mais de um milhar de fossas circulares de diferentes tamanhos, igualmente escavadas na rocha, e que tinham múltiplas funcionalidades. No total, a área abrangida pelo sítio ultrapassa os 16ha.
   A sua vida foi longa e terá durado cerca de 1500 anos. Iniciou-se no Final do Neolítico, há cerca de 5500 anos e prolongou-se por toda a Idade do Cobre, chegando ao início da Idade do Bronze, há 4000 anos, altura em que mudanças sociais e cosmológicas profundas levaram ao seu abandono.
   Esta longa vigência temporal e o progressivo crescimento em área e complexidade são justificados pelo papel social que os Perdigões representavam para as comunidades pré-históricas que habitavam o Vale da Ribeira do Álamo e que construíram e usaram os inúmeros monumentos megalíticos ali conhecidos. O local terá, desde o início, assumido um papel importante na gestão das identidades locais, tornando-se num ponto de encontro para práticas ritualizadas. A existência de um cromeleque de menires é um indicador dessa importância simbólica do sítio logo a partir do Neolítico.
   A própria localização, implantado num anfiteatro natural aberto a Este, e a arquitectura dos recintos revelam um forte simbolismo, com o sítio virado e aberto ao vale do Álamo, ao horizonte onde todos os dias nasce o Sol, e tendo as suas entradas alinhadas com os solstícios de Inverno e Verão, momentos do calendário anual que desde cedo marcam a vida das comunidade agrícolas neolíticas.
   Ao longo do tempo, as práticas funerárias ganharam particular relevância no sítio, contribuindo para reforçar a sua importância como local agregador das comunidades do vale. A investigação tem vindo a documentar que, ao logo do 3º milénio a.C., as práticas funerárias nos Perdigões foram muito diversificadas, com múltiplas formas de tratamento dos restos humanos (deposições em fossos e fossas, a trasladações para sepulcros agrupados numa necrópole, cremação de restos humanos), revelando formas distintas das nossas de conceber a vida e a morte.
   O papel social dos Perdigões neste território fez dele também um intermediário por excelência nas relações com o exterior. Muitos dos materiais recolhidos revelam contactos com o litoral alentejano e com as penínsulas de Lisboa e Setúbal, mas também com o interior peninsular ou com o Note de África (como documentam os objectos em marfim de elefante africano).

   Importante centro na Pré-História, o recinto dos Perdigões volta a evidenciar, nos dias de hoje, esse potencial agregador, reunindo o interesse da comunidade científica e do público generalista.











































Investigação e Formação


   Iniciada em 1998, a investigação arqueológica do complexo dos Perdigões tem prosseguido, de forma ininterrupta, até ao presente sob coordenação da ERA Arqueologia S.A. e com o apoio financeiro do Esporão S.A. e de programas estatais de apoio à investigação.
   Actualmente está constituído um Programa Global de Investigação dos Perdigões (INARP), liderado pela ERA Arqueologia, no âmbito do qual vários projectos de investigação foram concretizados ou estão em curso. Várias colaborações e parcerias têm vindo a ser desenvolvidas com instituições e investigadores nacionais e estrangeiros (Universidade de Málaga, Universidade de Coimbra, Instituto Tecnológico e Nuclear, Instituto Arqueológico Alemão), conferindo um verdadeiro âmbito interdisciplinar, interinstitucional e internacional à investigação.
   No âmbito da formação, várias dezenas de estudantes, provenientes de inúmeras universidades portuguesas e estrangeiras (e escolas profissionais), têm participado nas escavações ao longo dos anos (destaque para a colaboração formalizada com a Universidade Nova de Lisboa e a Universidade de Bradford).





Divulgação


   Desde o início, a divulgação dos Perdigões e do trabalho ali realizado tem sido uma prioridade. O sítio conta com uma exposição permanente na torre medieval da Herdade do Esporão, tem sido palco de visitas de especialistas (por duas vezes organizadas no contexto de colóquios internacionais) e de público generalista. Conta com mais de meia centena de publicações científicas, tendo sido apresentado em congressos em diversos países europeus. Os Perdigões são hoje reconhecidos internacionalmente como um importante contexto arqueológico da Pré-História europeia e a sua investigação foi recentemente considerada como um dos grandes projectos da arqueologia portuguesa.















Bibliografia 


Márquez, J.E.; Valera, A.C.; Becker, H.; Jiménez, V. e Suàrez, J. (2011), “El Complexo Arqueológico dos Perdigões (Reguengos de Monsaraz, Portugal). Prospecciones Geofísicas – Campaña 2008-09.” Trabajos de Prehistoria, Madrid.


Lago, M.; Duarte, C.; Valera, A.; Albergaria, J.; Almeida, F. e Carvalho, A. (1998) – Povoado dos Perdigões (Reguengos de Monsaraz): dados preliminares dos trabalhos arqueológicos realizados em 1997, Revista Portuguesa de Arqueologia, vol. 1 nº 1, Lisboa, pp. 45-152.


Valera, A.C., Lago, M., Duarte, C. e Evangelista, L.S. (2000), "Ambientes funerários no complexo arqueológico dos Perdigões: uma análise preliminar no contexto das práticas funerárias calcolíticas no Alentejo", ERA Aqueologia, 2, Lisboa, ERA/Cilibri, p.84-105.


Valera, António Carlos, Lago, M., Duarte, C., Dias, Mª I. e Prudêncio, Mª I. (2007), “Investigação no complexo arqueológico dos Perdigões: ponto da situação de dados e problemas”, Actas do 4º Congresso de Arqueologia Peninsular, Faro, Universidade do Algarve.


Valera, António Carlos (2008), “Mapeando o Cosmos. Uma abordagem cognitiva aos recintos da Pré-História Recente”, ERA Arqueologia, 8, Lisboa, Era Arqueologia/Colibri, p.112-127.


Valera, António Carlos e Godinho, Ricardo (2009), "A gestão da morte nos Perdigões (Reguengos de Monsaraz): novos dados, novos problemas", Estudos Arqueológicos de Oeiras, 17, Oeiras, Câmara Municipal, p.371-387.



Valera, António Carlos (2010), "Marfim no recinto calcolítico dos Perdigões (1): "Lúnulas, fragmentação e ontologia dos artefactos", Apontamentos de Arqueologia e Património, 5, Lisboa, NIA-ERA Arqueologia, p. 31-42.

Complexo Arqueológico dos Perdigões: um espaço de agregação comunitária do 3.º milénio a.C. (5500 a 4000 anos)

 

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Última actualização Março de 2014

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